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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O Rascunho do Fim

Como dizer que tudo acabou se ainda existe vestígios do teu olhar no meu coração? QUASE tudo acabou, e esse quase jamais renascerá, é página virada, é fase superada. Só resta isso acontecer por completo, e acontecerá.

(...)

Vladimir andava distraído nas ruas da cidade, olhava para baixo, imerso em pensamentos, quase invisível. Quando escutou um barulho, ergueu a cabeça e viu uma velha caída no chão, torta e ensanguentada. No meio de toda aquela confusão com cheiro de morte, Vladimir seguiu em frente, sem olhar para trás, mas ele estava condenado a passar por aquela rua todos os dias da sua vida, era o caminho de casa. E todos os dias da sua vida Vladimir lembraria da velha morta na rua. Mas aquilo acabou dentro dele, no momento em que deu as costas para o cadáver da pobre senhora e para a multidão que estava na rua. Mesmo passando pelo sombrio lugar diariamente, Vladimir enterrou a sensação que sentira, como se algo pudesse existir e não existir ao mesmo tempo.
Acho que meus amigos filósofos indicariam Hume - exclamou Vladimir, quando o vestígio da morte da velha assombrou seu coração.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Indignações...

O que podemos conseguir com o isolamento? Como podemos falar numa proposta do fim do imperialismo burgues se preferimos nos aquietar frente as lutas, pois nos importamos mais com "instituições" do que com o que deve ser feito. Cuidado, muito cuidado conserva, e acho que não é isso que queremos. Acredito que não sejamos tão vulneráveis frente aos encantos da manutenção da ordem tal como ela é, nem de tão fácil infectação de idéias absurdas contra a vida, dos homens e da natureza. Se ser comunista é desistir então eu desisto de ser comunista, pois virar as costas para tudo o que está acontecendo, e coisas que podemos abraçar tão forte, pela certeza de que aquilo pode nos ajudar na guerra contra o capitalismo, contra o consumismo e todos seus símbolos e expressões. Mas não, camarada. Ainda não. Ainda existe dentro de mim um grito que defende o comunista resistente, combatente. O comunista que procura nos livros, nos jornais, na realidade, nas conversas, em tudo o que olha e o que vive, posicionando-se sempre em prol de uma sociedade socialista, colocando-se assim em postura contrária, opositória a conservação do que queremos que acabe e sabemos que um dia acabará, que pensa em hipóteses de que a derrubada do Estado Burguês aconteça: e essa procura não é ingênua, é estratégica. Pasmo e entristeço ao ver a conivência aos jogos políticos bem como ao perceber a apatia e a rigidez com a qual ela é mantida, pairar entre os comunistas. Não não, meus senhores.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Um grito dentro dela

O dia amanheceu chuvoso,e todas as gotas simbolizavam as lágrimas que nunca cairiam, por serem absolutamente dispensáveis. Innocenza procurou não relacionar a tristeza de sua cultura com a tristeza que estava sentindo.... tristeza é muito relativo, e nesses momentos nada poderia descrever aquilo que ela pensou ser tristeza. Todas as fissuras no prato de porcelana estavam pulsando a comida que antes comportava: cicatrizes definitivamente curadas, mas ainda cicatrizes. Naquela tarde Innocenza acreditou, acreditou tão fortemente que, ao perceber o equivoco, neutralizou seu pensamento, depois do choque espiritual. A coisa em si é a loucura e a benção de saber que qualquer desenho feito na beira do mar será passageiro, ainda que intenso, e que tudo não passa de invenções e defesas de mentes pensantes com largas ou estreitas preferências: que tudo não passa de um absurdo.

sábado, 13 de novembro de 2010

Poesia eterna

Nada tenho de nostalgica

Posso ouvir qualquer música, que será como a primeira vez.

Não quero compartilhar tamanha insensatez,

De ser como fui há poucos anos:

Minguado poço, secando uma gota de cada vez.


(...)

domingo, 7 de novembro de 2010

A vontade "desmancha no ar"....

sou eu! aqui! revolucionando todos os fatos e atos falhos,
inevitavelmente falhos. Eu posso não fumar, ah...
doce movimento do ar. Sem pecados,
pois nada é profanado nem sacramentado.

- ao menos não deveria ser -

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Oh charme!

Dia após dia, a cada passo e a cada espera Innocenza sente os rituais dialéticos: constantemente e sem fim, por toda sua vida; tão doces e marrentos de amargar a alma - A busca por palavras é fato nada raro: - Innocenza exclama: as vezes tenho medo de me mecher, de tão charmosa que sou, mas quando quero ser, não sou!



Imagem: colhe todos os frutos que lhe são ofertados...
Homenagem a André Gide

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Sale Sobrando

"Los hombres barbados vinieron por barco
y todos dijeron mi Dios ha llegado
ahora pa'l norte se van los mojados
pero no les dicen, welcome hermanos.

Si el dolar nos llama la raza se lanza
si el gringo lo pide al paisa le cuadra
los narcos, la migra y el border patrol
te agarran, y luego te dan su bendición

En Chiapas, mujeres y niños rezando
machetes y balas, con sangre bañaron
la patria su sangre al progreso ha clamado
pero esa es tu raza que sacrificaron.

El indio, el negro, el mestizo, el güerito
todos manifiestan al México lindo
pero, dónde fue la justicia y la pena?
si sangre que corre en el limbo se queda

La sangre que corre por los sacrificios
mestizo has de ser, por tus vicios
No vayas muy lejos y mírate al espejo
porque cuando mires no te va a gustar
tu cara es morena y quieres ser güera
y bien que te comes tu taco y memela

Ay yay ay yay, canta y no llores porque cantando
se alegra México lindo, los corazones.

Mexicanos al grito de guerra cantamos
pero a la montaña ni locos nos vamos
turistas y extraños, se acercan en vano
pa' que se preocupan? derechos humanos
si aquí la justicia sale sobrando"

L.Downs

em breve...

Em breve a epístola inexistente:
o tempo nunca pode ser inimigo...

domingo, 5 de setembro de 2010

Dá-me um copo d’água: Homenagem Híbrida

Não precisa trazer, pode deixar que eu pego... é pouco que beberei, haja vista o tamanho do rio. Apenas um ou dois tragos e um pouco de vinho, ou nem isso. Um pouco de solidão, ou muita, ou nenhuma. Depois de Adorno e Horkheimer não quero mais nada que se assemelhe a sensação de ouvir Jazz, mas ouço Coltrane. Peço ao destino tudo que é proibido, dentro do aconchego de minh’alma. Calma, bebe pouco que a vida só precisa de um copo d’água – por dia. Serve-te, donzela; ouvi dizer de tua sede a la grega - justa-medida. E mais: Não mais repita que não há nada de protestante em você, ah... prova de que somos uma só: Ouvindo Coltrane... Susto: de uma das garrafas já não necessito, não tem quem agüente atuar em todos os palcos, um ou outro já me fazem agir por demais. Ah, vício(s), nada importa quando se deseja a fuga, o transe da sedução, rosas vermelhas, maças suculentas, câmera, luzes: ação! Dança proibida dos protagonistas anônimos, escondemo-nos – E disso Innocenza nunca fala – sarcasmo, risos dos quais me enojo... Será?

Primeiro depoimento de sra. Innocenza P.; julgada por homicídio culposo:

- Juro! Eu estava em casa na noite passada.

PS: A partir de relatos de amigos e familiares da senhora Innocenza P. descobrimos que esta sofre de ceticismo, inaceitável pela justiça e pela lei.

Assim decide o tribunal: Senhora Innocenza P. sofrerá a pena de não mais beber... água (apenas um copo por dia).


Homena(imã)gem a Andrei Tarkovsky - janela atlântica, um sopro de cores.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Natureza humana, existe?

Lado A, lado B...

Tira a máscara
Para podermos ver

Quem sente a dor
Do outro é o lado A

Lado B nada sente
Se você morrer

- Innocenza grita:

Inexistente bondade humana
Homem Esfinge:
Finge que sente
Mas não sente nada
Que não seus interesses

- seus interesses -

Dá risada, esfinge!
Ri do sangue que escorre
Na valeta fedida de tua...

Alma?

- agora eu digo:
Nem tu escapas, Innocenza!


Aviso do Diabo Ocidental:

Também pudera – diz ele – nessas águas turvas egoísmo é corpo flutuante, salve-se quem puder.

(continua)

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Monólogo espectral

Confesso-te: Passam as horas, inúmeras, rasantes em minhas memórias – as ocultas e as racionais. (De)Formam para reconstruir-me, incessantemente. E aqui dentro de mim habitam monstros assombrosos e margaridas umedecidas pelo orvalho, o nada de tudo e o oposto do contrário do normal. Saio daqui, paro no mesmo ensaio, com cenários e atores diferentes: teatro de máscaras e performances retroativas, tudo em antagonismo a mim, e eu protagonizando a vida – oh curada ferida, matou-me para só então, em escuro selim, incendiar-me de... vida . Desgraça cheia de graça é, e tu sabes, o espetáculo humano. Apago a vela, acendo a luz e respiro fundo, ofereço-te água e bom fumo. Senta-te que narrarei “Os escritos da epístola inexistente”,
(...)

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Quem és?

Diz-me de uma ver por todas quem és tu: Sei muito bem, caro vanguardista, que és nada mais que uma continuidade de tua produção material e que, agora, cabe a ti optar em sujeitar-te a tua condição, reponsabilizando-te por mudanças, sim, tu és sujeito histórico, basta conscientizar-te. Ou cabe a ti reproduzir o sistema que te produziu.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Escolhas

As flores da estrada que caminho me agradam, ah... são belas e cheirosas. Nas encruzilhadas não consigo ver meus passos, e meu pensamento é embebido de interrogações: todas, intensamente. Dilema que dói, que aperta no peito, faz o coração pedir ajuda, ajudem-me por favor!

Desesperada, entre as flores orvalhadas
Um assombro do destino: dúvidas!

Eu sei, mas não foi fácil...

quarta-feira, 21 de julho de 2010

de repente, agora..

ei Innocenza, olhe para mim, aqui, aqui no cantinho. Está vendo essa vela e esses fósforos? Acendei. Chegue mais perto, deixa-me contar um segredo: condicionastes, oh minha Innocenza, tua rara existência à desejos transitórios. Doastes de bom grado teus cuidados aos trapaceiros. Percebes?

(...)

terça-feira, 20 de julho de 2010

doenças de inverno

Mais duvidas que certezas, mais erros que acertos. Meus pensamentos vagando em imperiais castelos nebulosos, minhas lágrimas... não sei ao certo porquê caem, só caem. Construo e destruo realidades, invento. Ainda é inverno, não agüento mais a combinação mórbida de frio e solidão, de uma vida que pulsa discretamente, quase invisível. Talvéz já saiba: não sei o que quero, as vezes eu quero mesmo é nada querer.
Hoje fiquei doente, e aqui, na terra de pinhas e pinhões, a doença no inverno é quase insuportável. Fiquei doente e fiquei carente, andei pelas ruas: nunca sem rumo. Carente, tomei café da tarde, sozinha, li, sozinha, gozei febre, sozinha. Relacionei fatos a fotos e envelheci meu pensamento, um pouco. Desejei e consequentemente duvidei de mim, de nós, da vida. Pensei, como antes já ocorrera, que pareço uma dessas pessoas que morre aos 27, espero que não, quero ter o prazer de descrever a vida na velhice. Ou a sorte. Ou o fardo.
Carente do que nunca aconteceu, do abstrato, do imaginário: de amor.
Doente de gripe, e do coração.

sábado, 17 de julho de 2010

Café da tarde

Sim, eu gosto da vida, mas não por isso reprimo-me em falar da morte... inevitável que é. Que bom é sentir-se viva, - respiro fundo, contemplo o mundo. Passeando estava eu, no caminho perfumado com aroma de chuva, o mato, os buracos da estrada y a agradável melodia italiana: o velho rock’n roll ao vinho branco. Pulsou a vida, sorriu para mim.

essencialidade e a segunda parte do consolo de Innocenza

Não compartilhais com ninguém
o todo que te forma
Escute Innocenza
Conforma-te contigo mesma
E anda sem olhar para trás.


quinta-feira, 15 de julho de 2010

Fins...

Solidão que arde, que queima, que desespera. Nenhuma dessas cores e nenhum desses sons são capazes de substituir a presença de... de quem for. Innocenza sofreu de amor, e todas as suas dores foram curadas por outras. Ninguém não tem dor, é nossa fase mais pura, é o trajeto eterno e contínuo da vida. O frio era tão forte, Innocenza estava enrolada em um cobertor, na sala de estar de Vladmir. Ah, que tristeza foi, a pobre Innocenza sentiu-se como o sonhador das noites brancas de Dostoievski. – nunca senti saudades de ninguém como sinto de Ella. – exclamou Vladmir. E mais uma vez Innocenza conheceu a morte, e cantou em tom baixo:

Madrigal das noites de inverno


Perdida estou, no Sul, no vento frio
Com a boca amarga e mãos atadas
Tentando ouvir passar o rio

Dentro de mim existe solidão
Correndo em minhas veias
Misturada com meu sangue
Sangue frouxo em veias fracas

Oh interminável silêncio
Que abriga minh’alma
Vem, contigo, a dor
De estar desolada
Triste e calada
Nesse salão vazio
Onde ocorre um baile de máscaras
Onde existem baratas e traças
Debaixo do tapete vermelho

Nov/2009 e Julho/2010

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Difícil desvendar a vida, a particularidade que ela tem... ah, donde vem essa dor? Donde vem essa tristeza? Sinto-me assaz sozinha no mundo.

sábado, 10 de julho de 2010

In: Contos Ocultos (que ainda não existe)

Houve um dia em que Innocenza pensou ter encontrado a felicidade, houve um dia em que Innocenza teve esperança, em que nela havia aquela aura bonita de não saber muito sobre a vida. E por não saber, achava que era feliz até mesmo quando suas lágrimas escorriam pela face, molhando suas roupas, noite após noite, pobre Innocenza!

Escute Innocenza,
Conforma-te com tua solidão,
Pois dela nascerá tua singular pureza
Teu grito maior, tua libertação.

domingo, 4 de julho de 2010

In: Contos Ocultos (que ainda não existe)

Visito submundos do pensamento
Uma correnteza de vinho azedo
Uma vida de nada
Abismo profundo!

Devaneios da noite na garagem

Innocenza andava a caminho do apartamento de Vladmir Uriah, buscando a mesma sensação que há muito tempo alternava em estabilizar e intensificar. A ela cabia amar Vladmir por toda vida. Naquele dia o desejo assaz tomava conta de suas almas, e de seus corpos. Innocenza sabia que Vladmir provavelmente não estava sozinho – diferentemente dela, que estava acompanhada por exatos momentos, e só – sua família o acompanhava. Era véspera de Natal, e mesmo isso nada significando para ela, existia um tímido vestígio cultural expresso em forma de "clima no ar". Vladmir foi ao encontro de Innocenza, nas entranhas cinzentas das redondezas de sua residência, amaram-se, ao estilo desses amores seculares, raros. Vladmir insistiu, irracionalmente, para que ela subisse aos seus aposentos. Innocenza não sabia onde estava sua esposa, embora isso a preocupasse um pouco. Levou-se, euforicamente, a subir ao apartamento de Vladmir, onde tantas vezes mergulharam em volúpia. Lá, Vladmir a levou para cozinha e mostrou-lhe os aperitivos natalinos, que alguma de suas criadas preparara, Vladmir rasgou um pedaço da carne crua, cuja origem Innocenza não sabia qual era, e levou a boca, rapidamente, degustou, saboreou, - belíssimo. Vladmir me enojava as vezes, eu jamais teria criadas. Lascou outro pedaço, salgou e num susto deu-lhe em sua boca... repugnando-se Innocenza cuspiu, cuspiu muito, a expressão de nojo em sua face fez Vladmir exclamar, preocupado. – você é vegetariana meu bem!

As imagens cinzas tornam-se coloridas e belas, por suas mãos
E a doçura de sua presença esporádica faz-me louca, fluida.


Mas não engoli o pedaço da carne crua! Jamais o faria. Sim, amei Vladmir de maneira secular e rara. Na varanda indiscreta do apartamento dele, no momento em que nossas mãos repousavam silenciosas e entrelaçadas, vi surgir entre a porta o rosto de uma criança, um menino olhando tristemente, logo reconheci. – seu filho Vladmir, sabia que era arriscado, exclamei. Pai e filho abraçam-se, e eu... Eu fico a pensar e a sentir sobre a ocasião, imóvel.



O julgamento

Na sala de estar encontrávamos eu, Vladmir e sua esposa, Ella Desoir. Ella, calma e decepcionada, aparentando já saber de nossos encontros, de nossa historia. Nesse momento Ella era simultaneamente juíza e vitima. Questionava-nos sobre o que estava a acontecer. – desde quando? Perguntou tremendo sutilmente. – há muitos anos, quase vinte. Respondi. Ella mergulhou num rio de desesperos, de forma a fazer-me pensar sobre os motivos que levaram Vladmir escolhe-la oficialmente, e não a mim.

O tempo

Tanto não sei o que acontecera antes disso
Como não sei o que acontecerá depois

Os fatos misturam-se, confundem-se
Entre os reais e os sonhados



A eternidade da solidão
Deliciosa água morna ao vento fresco e céu azul: eis-me aqui há tantos anos, procurando, inutilmente, teu aconchego. Todos os que vêm e os que vão deixam comigo um farelo de sua totalidade, uma vontade de mudança, uma mudança real. Passo pelos becos do tempo contemplando as facetas minimalistas da vivencia humana, ocidental. E sempre só, em meus desvios, em meus instintos, em todas de mim mesma.

sábado, 3 de julho de 2010

a vida da senhora Innocenza

(Innocenza encontrava-se delirando, o sol e o céu eram o que de mais lindo poderia haver. Contemplativa, olhava o céu, para depois ver as marquinhas que esse deixara no silêncio dos seus olhos fechados. Sentia-se cansada das pessoas, dos arrogantes, dos fracos e dos mentirosos. O sono lhe acompanhara).

Risadas e mesquinharias regadas a cigarros e cafés, além das inúmeras farsas, dissimulações. Ah... que medo sinto eu – exclama Innocenza.

Segunda canção da morte em vida

Em tarde primaveril nasceu à negra flor
Reguei-a em lindo jardim, ao suave sereno
Que de tudo era pequeno – oh maldita dor!

Canta canta, enaltece a bela flor...

Em espetaculares noites senti seu cheiro
Maquiei sua existência, profanei
O mundo inteiro! Para tão logo
A negra flor tomar o copo de minhas mãos
(M’)O jogar contra a parede
Manchando meu vestido, causando minha sede...

Mal rompeu o sol e logo senti-me doente
Minha estupenda flor era uma serpente

O perfume? É seu veneno mais requintado.
Velo por ela, em silêncio inodoro.

Saudamo-la, oh queria Innocenza, que de tu brotes vegetações das mais variadas, e que tu queimes toda peste que nelas existe. A ti presenteamos com a mais bela capela: à tua morte Innocenza.

Lembro-me bem como foi à sensação: a noite era quente e cheirava a jasmim, o vento, muito agradável, fazia dançar os galhos das árvores de folhas extravagantes. Havia um lindo castelo, ao centro da clareira do bosque: acontecia um baile de máscara. As pessoas sorriam lentamente, por debaixo de suas máscaras, e dançavam de forma sincrônica – a música era fúnebre, e homenageava meu velório.

Sensações visuais


as águas jamais serão as mesmas.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Canção da morte em vida

parte 1

Prescindível ato especulativo, eu,
movida por

(...)


curiosidade humana

Explorei lugares escuros
andei por entre esquinas perigosas

Vi o que não queria ter visto
ou o que nunca imaginei querer ver

Coloquei-me no céu, inatingível c(ria)tura
Superior ao belo e ao bom

Ao nada

À morte

Morte da sedutora retórica
Silêncio: peço num susto - A vós, mentirosos.


Foto: discreta solidão

domingo, 13 de junho de 2010

"Hoje foi um dia ridículo, absurdo, estúpido" Dostoievski

A Solidão


ninguém mais vê meus olhos
vedei-os antes que o fizessem por mim

a verdade aparece numa noite fria
vestida com um manto negro

matei-a, friamente.

outono sangrento, domingos dissonantes
singela madrigal que de mim provem

meia-noite
meia-luz
meia-estação

as formas cansadas dos rochedos
às faces de minha insônia

canção sombria, canção assaz desgraçada
escutai-me: apressa-te ao teu deserto
para que de Deus
chegues mais perto.

Lucineli Pikcius


Poesia Empoeirada


... Leva a mão ao bolso da camisa desabotoada, procurando o cigarro que acompanha o conhaque.
... Dá um trago, um gole, mais um gole, levanta-se.
Mi... Procura os cantos da casa, observa, olhar gelado, mecanizado.
... Olha pela janela, respira fundo, fecha a cortina, deita, levanta, senta, levanta, encontra o espelho
Sol... Orgulha-se de se ter, de se ser, vê o fundo do espelho vazio e sabe, e se engana.
... Silêncio da Cicuta,


Si


Titubeia...

Lucineli Pikcius/2006-2010

sábado, 12 de junho de 2010

Vosso Deus... onde está?


Portadores da absoluta verdade, digam-me com toda ironia e arrogância de que são dotados: Nesse instante em que vós gerais dor e sofrimento - onde está Deus? Vós criastes Deus assim? Dispenso esse Deus, esse Deus que perdoa todos vossos erros. Vós, que culturalmente estreitam laços comigo: odeio-vos, por criarem em mim o desejo real da morte. Sois injustos, sois carrascos, nada fiz para receber de vós a ira dos fracassados, dos reprimidos. Repugno-me ao olhá-los, esses pobres iludidos. Vossas razões são lagos rasos, flores sem perfume. Perdeis meu amor, e sim... Por vós apagou-se aquele brilho que exalava de meus olhos, eu, boba da corte, prisioneira que vós escarrais. Eu, imóvel. Perdida. Silenciosa. Triste. Vós, detentores do monopólio da verdade. A vós: Aplausos...

Lucineli Pikcius

segunda-feira, 31 de maio de 2010



Trecho de um texto escrito hoje, 31 de maio de 2010:

"...Por quanto tempo suportarei a existência não sei, mas certamente são em momentos como esses, em que o vento é tão forte que derruba e quebra meu espelho e meu relógio, que existir não é um fardo, que ser é muito menos que estar, que amar é muito mais que tudo: apenas existo, mais nada.

Vou partir

Meu destino

Não tem gravidade

Fisicamente

Não existe gravidade."

quinta-feira, 20 de maio de 2010

sem tentar disfarçar LIBERDADE, pois na luz do dia ou da noite, (ah...) o tempo não passava e saía por aí:
apenas para andar
apenas para olhar e pensar
Sem dinheiro sEm rumo seM idade.
O tempo não passava para ela, mas passava para o tempo: ainda é cedo, mesmo já tendo sido tarde... O tic-tac variando no compasso das batidas da bateria, as guitarras gritavam: ELA era livre!!! não podia ver novidades sem agarrá-las e se diluir-se em encantos, pois as novidades eram tão atraentes quanto o vento do sul.. e foi assim que, quando ela olhou para dentro e viu seu corpo mergulhado num mar de cores e fantasias inexplicáveis, a música que ele emitia penetrava nos poros DELA que já era uma viciada.

Ela morreu há pouco tempo.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

?no exato momento

Aqui, onde tudo acontece, onde os invernos e os verões são violentos - e a violência é perene - existe, em antagonismo ao que é, a morte. Nunca, verdadeiramente, desejei morrer: o desejo na verdade era provocar, em específicas pessoas, o que os símbolos da morte causam. Fragilidade inocente e acima de vários fatores, um rito de passagem.
Lucineli Pikcius


Foto: solidão na praia, outono de 2006, eu acho.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

"Se de maçãs tanto gostas,
não vás com o Éden sonhar.
Também eu no meu pomar
cá tenho maçãs bem-postas."

GOETHE In: Fausto

terça-feira, 11 de maio de 2010

Ciclo

nada a declarar... me esqueci por aí, dobrei a esquina e me perdi! O pedaço que aqui está já está se despedindo; as visitas são muito rápidas - só sente o vento frio tocando o ombro, só ouve os pequenos ruídos da noite, a música é o resgate que me vem.

Aquela coisa, como delirar frente a uma lareira, vodka aah, doces sonhos. Não preciso de comida, não preciso de água, muito menos de dinheiro. Não preciso da certeza de vida, arrisco-me. O céu é lindo, o mar é como o ventre quentinho, nada mais que paz... nada mais que, paz.

Respondo a ti, para que não escutes:
- Eu quero um café, eu sempre quero um café!

...e foi assim, esses dias de outono, ah, mês de maio... um dia lindo. Amanheceu, o céu azul fez saltar meu coração. êxtaseTotal. Muita fome, intensas descobertas. De tardezinha foi esfriando, as folhas, aquele tom de madeira, aquele cheiro de partida, de adeus. O sol se pôs.


Imagem: Sombra do chapéu, beira rio...

segunda-feira, 10 de maio de 2010

asfixia capital

Doente crônico com periódica aceleração do batimento cardíaco e falta de ar insuportável. Andando pelas ruas da pequena cidade que nasci vi o símbolo da miséria na pobre face de um homem que por ali estava... sensação como a de ontem, o cachorro tinha espasmos nervosos, de tanto frio que fazia. Desesperadamente fico covarde! E tão somente por que “preciso” continuar na miserável rotina imposta.

“A precária democracia de hoje não sobrevivera a espera tão longa para extirpar o câncer da desigualdade”, bem colocado por José Murilo de Carvalho.



Foto: Catadores de produtos recicláveis - Fazendinha Cwb
no blog do CASO: www.casopucpr.blogspot.com

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Calafrios...

Agora sim, diferentemente de antes, fez-se a profecia da morte em vida, e sobretudo do renascimento, bem como a chegada do capitão Cook na ilha Sandwich, "oh Deus Lono", cheguei inteira: a viagem se deu num tenebroso mar de lágrimas. E descubro, docemente, que estabeleço símbolos para minha felicidade - que não tem nada de aristotélica - como o ritual pré-leitura, café e cigarros... Embriago-me, saindo de um estado de sub-vida, ao beber um pouco de ciência... (PS: Hoje bebi Florestan Fernandes, amanhã o farei novamente)!

ou, nas palavras de Gide

"Conheci o vinho encorpado dos albergues que volta à boca com um gosto de violeta e provoca o sono espesso do meio dia. Conheci a embriaguez da tarde, quando parece que toda a terra vacila sob o peso de pensamento poderoso.
Nathanael, eu te falarei da embriaguez.
Nathanael, muitas vezes a mais simples satisfação foi para mim uma embriaguez, a tal ponto, antes, eu já estava embriagado de desejos." - André Gide


Imagem: Saudando a chuva do alto da montanha.