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domingo, 4 de julho de 2010

In: Contos Ocultos (que ainda não existe)

Visito submundos do pensamento
Uma correnteza de vinho azedo
Uma vida de nada
Abismo profundo!

Devaneios da noite na garagem

Innocenza andava a caminho do apartamento de Vladmir Uriah, buscando a mesma sensação que há muito tempo alternava em estabilizar e intensificar. A ela cabia amar Vladmir por toda vida. Naquele dia o desejo assaz tomava conta de suas almas, e de seus corpos. Innocenza sabia que Vladmir provavelmente não estava sozinho – diferentemente dela, que estava acompanhada por exatos momentos, e só – sua família o acompanhava. Era véspera de Natal, e mesmo isso nada significando para ela, existia um tímido vestígio cultural expresso em forma de "clima no ar". Vladmir foi ao encontro de Innocenza, nas entranhas cinzentas das redondezas de sua residência, amaram-se, ao estilo desses amores seculares, raros. Vladmir insistiu, irracionalmente, para que ela subisse aos seus aposentos. Innocenza não sabia onde estava sua esposa, embora isso a preocupasse um pouco. Levou-se, euforicamente, a subir ao apartamento de Vladmir, onde tantas vezes mergulharam em volúpia. Lá, Vladmir a levou para cozinha e mostrou-lhe os aperitivos natalinos, que alguma de suas criadas preparara, Vladmir rasgou um pedaço da carne crua, cuja origem Innocenza não sabia qual era, e levou a boca, rapidamente, degustou, saboreou, - belíssimo. Vladmir me enojava as vezes, eu jamais teria criadas. Lascou outro pedaço, salgou e num susto deu-lhe em sua boca... repugnando-se Innocenza cuspiu, cuspiu muito, a expressão de nojo em sua face fez Vladmir exclamar, preocupado. – você é vegetariana meu bem!

As imagens cinzas tornam-se coloridas e belas, por suas mãos
E a doçura de sua presença esporádica faz-me louca, fluida.


Mas não engoli o pedaço da carne crua! Jamais o faria. Sim, amei Vladmir de maneira secular e rara. Na varanda indiscreta do apartamento dele, no momento em que nossas mãos repousavam silenciosas e entrelaçadas, vi surgir entre a porta o rosto de uma criança, um menino olhando tristemente, logo reconheci. – seu filho Vladmir, sabia que era arriscado, exclamei. Pai e filho abraçam-se, e eu... Eu fico a pensar e a sentir sobre a ocasião, imóvel.



O julgamento

Na sala de estar encontrávamos eu, Vladmir e sua esposa, Ella Desoir. Ella, calma e decepcionada, aparentando já saber de nossos encontros, de nossa historia. Nesse momento Ella era simultaneamente juíza e vitima. Questionava-nos sobre o que estava a acontecer. – desde quando? Perguntou tremendo sutilmente. – há muitos anos, quase vinte. Respondi. Ella mergulhou num rio de desesperos, de forma a fazer-me pensar sobre os motivos que levaram Vladmir escolhe-la oficialmente, e não a mim.

O tempo

Tanto não sei o que acontecera antes disso
Como não sei o que acontecerá depois

Os fatos misturam-se, confundem-se
Entre os reais e os sonhados



A eternidade da solidão
Deliciosa água morna ao vento fresco e céu azul: eis-me aqui há tantos anos, procurando, inutilmente, teu aconchego. Todos os que vêm e os que vão deixam comigo um farelo de sua totalidade, uma vontade de mudança, uma mudança real. Passo pelos becos do tempo contemplando as facetas minimalistas da vivencia humana, ocidental. E sempre só, em meus desvios, em meus instintos, em todas de mim mesma.