O
que mais desejei nos últimos dias foi a calmaria das coisas mais
simples da vida, coisas que não se vende no mercado capitalista...
Criei problemas novos para resolver problemas históricos que eu
própria estava reproduzindo, e o desespero dos fatos caóticos
anuviou meus pensamentos por um instante largo, mas breve. Nesse caos
conheci um lado da vida tão obscuro que eu poderia dizer que parece
o inferno, se eu fosse cristã. Percebi que nessa obscuridade caótica
reside sonhos revolucionários que, sem encontrar espaço, constroem
espaços ilusórios de libertação. E a libertação aprisiona, pois
é falsa. Reconheci como já fui menos e como já fui mais, como o
bom e o mal são partes de uma coisa só. O que mais desejei nos
últimos dias foi força pra continuar resistindo, e fazer com que
meu caos seja re-significado, e que um pouco de harmonia chegue
enfim. Desejei ter mais controle de mim mesma, desejei ficar sozinha,
fugir, desejei concertar o que se passa na minha cabeça, desejei
fazer coisas que antes eram coisas tão simples. Senti tristeza,
medo, insegurança, desespero, mas agora sinto que estou
absolutamente apta a sentir o contrário de tudo isso. Senti que hoje
o sol começou a nascer, e junto a ele uma leve chuva vem regando as
sementes espalhadas durante toda essa tempestade, dessas sementes
nasceram mulheres livres e fortes, dentre elas estou eu, e que eu
mesma consiga gerar novas mulheres, sem precisar usar meu ventre.