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quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Antimatéria

No fim de tudo
Tudo que resta
É matéria em decomposição,
E lastros da essência
De nossa ação.

A matéria revive
Em seres de todos os reinos
E continuamos,
Pois somos parte do todo.

No fim de tudo
Não haverá mais dor
Só a pureza
Do amor verdadeiro

Nesse plano
O amor é matéria.
No outro,
É antimatéria.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Só, a “Lonesome Town”

Presumo que não há nada de distinto
Quando sinto a dor que me causam as dúvidas.
Resumo num versinho quase extinto
O sentimento desnudo das minhas idas e vindas.
Não me desafino em léxicos estéticos
Para falar de amores que não existem.
Não me rendo a olhares, não me prendo
A pesares. Não me acostumo ao amor
Desses compartilhados por pares.
Do amor, só gosto da fuga. Da flutuante
Fineza de palavras fugazes, prenunciando fins.

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Viola vermelha

Poderia pousar no coração do Brasil
Sob a harmonia do Sol e dos Rios
Degustando o azedume das silvestres
E o açúcar natural da jaca.
O banco e a jaca, o sono que desperta
O desejo de deleitar Brasil, jaca e viola.
Vontade do amanhecer cresce. Fortalece
O desejo de tomar por assalto
Os prazeres dispersos em complexos
Fluxos fugazes e fatos controversos.
Fico verso quando ouço o coro
Rouco de um Brasil Calabouço.
Anúncio da ruptura do mulato trabalhador:
Tropical leninismo que a viola rearranja.
E por trás brilha um céu laranja, que aos poucos
Vai ficando vermelho..


sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Desencantos de adolescente

A flor que reguei
Morreu antes do tempo.
E num instante chorei,
Sozinha, contra o vento.

O amor não me engana mais,
Aceito a condição
De ficar sozinha em paz.

Minha essência distancia
Qualquer um, e tudo que me resta
São os bichos são os livros.
É a vida composta por um.

Desencantos em cantos
Em prantos, na proteção
Dos mantos, dos mantras
Desencantos violentam
Mas meus sonhos me curam.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Pedaços de mim

Vou deixando pedaços de mim,
No pequeno campo que habito.
É difícil assim, como disfarçar
O coração saltando aflito.
A amálgama que me compõe
Tem predominância metálica,
E entre os pedaços perdidos e
O fixo coração aflito,
Tento deixar o coração pra lá
E fitar o natural conflito
Que fazem os pedaços de mim
Espalharem-se pelo mundo.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Solidão ensolarada

O sol quando se está só
Faz dó no meu coração
O dia acaba em pó
Que vem da não-ação.

Uma tristeza desigual
Aprofunda-se em ares.
E respiro o necessário
Para não acumular males.

Queria estar como não estou
E pra onde vou
Não sei
Sei apenas onde parei.

Não queria sentir-me tão só
Mas nem sol, nem ar
Tiram da minha garganta o nó

Atado por amar.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

À Brasileira

Alguns versos ocultam a lúgubre existência do povo mestiço.
Há quem ostente heróica história brasileira, mas tem quem
destaque o oposto, como Azevedo em O Cortiço.

Fazem-nos crer que
Nossas negras formas não escrevem, só atuam
Em cenas pálidas, como àquelas construídas
Pela segunda geração do romantismo.

Assis consegue ser crítico, ainda que esconda
o verdadeiro ritmo da sociedade. E assim Caminha.

O halo é clamado e contemplado por Olavo
Não é o mesmo halo visto por Fabiano de Graciliano
Vidas secas no agreste, entram em chamas.

As chamas inspiram protestos, e protestos
Terminam num brinde, no Bar Don Juan:
Triste, Callado.

Ainda assim, Quintana e Drummond enxergam amor
E o ódio, e dilemas de poetas.

As poesias permanecem, mas "E agora José?"
Agora chamo Carolina, Cecília.. dada a dominação masculina.

Ah poesia brasileira, oculta ou revela?
Lê o poema, queima o poema, apaga a vela.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

O fim indica um início

Olhei a superfície dessa sociedade imersa numa guerra silenciosa,
Vi  o entrecruzamento da opressão e da beleza sui generis de tua natureza
Brasileira: Escondida, esgotada pela ordem e pelo progresso.
Brasil, quantas coisas lindas morreram no sul, no norte, leste oeste.
Que povo incompreendido pelos outros e por si. Mulatos
Mais pra negro ou mais pra branco: são todos que vivem aqui.
Mulato, cafuzo, cabelo enrolado, queimado do sol do cerrado.
Mulato do que restou da mata Atlântica, mulato explorado do sul.
A mata, o mulato, a música brasileira. Todos ocultos atrás da carcaça da opressão,
Do grito abafado do sertão, da disputa pelo sol paulistano.
Na Amazônia, na caatinga:  Bichos morreram no processo de exploração. Brasil,
Teu grito é o do negro, do operário, dos que trabalham no roçado:

O que precisamos ainda não existe, cabe inventar.



quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Velha Juventude

Eu admiro os mais velhos
O tempo gera a sabedoria suficiente
Para tornar o mundo suportável
Enquanto não conseguimos transformá-lo.
Eu admiro todos aqueles que tem a coragem
De sair da facilidade da superfície,
E adentrar nas reflexões mais profundas.
Eu admiro o novo homem, que nunca existiu,
Mas que eu luto para que exista fora e dentro de mim.
Procuro a não-convivência com aqueles
Que são tão domados pelo normal, nem sempre consigo.
Procuro negar em mim aquilo que nego nos outros.
Procuro admirar tudo e todos
Que escolhem o caminho mais difícil,
Que perguntam as perguntas mais complexas,
Que vivem na contramão, de cabeça pra cima.
Admiro aqueles que morrem heroicamente,
Por que se desprendem de si mesmos,
Os superficiais jamais puderam fazer isso.
A heroica simplicidade que se apoia
Nas questões mais complexas do mundo
Me apaixona, me fortalece, me faz suportar.
Inspirada nos velhos, nos corajosos, nos intensos,
Em todos aqueles cuja excentricidade não é meramente estética,
Sigo numa luta silenciosa, aspirante revolução.


terça-feira, 30 de julho de 2013

O eu que eu nego

Confesso sobre a inércia que me assombra,
Sobre as dúvidas que me afrontam,
Sobre as minhas premissas.

Tropeço, demasiadamente,
Naquilo que nego.

Permaneço anestesiada, as vezes,
Pelo meu ego.

E prego palavras que formam
Um instrumento que assola
Essas insistentes verdades.

Inutilmente faço versos
Pra aliviar as contradições que
Compõe minha ira.

Tudo que parece escuro
Iluminado vira.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Em julho

Chegou: O frio e uma viagem
Dueto da roupagem e
Da forma do meu
Pensamento...

O frio é daqui
A perturbação não:
Encontra-se no tempo
Se arrasta com e pelo
Poder de construir
Momento por momento
Da minha vida.

O frio perturba
Mas pensamentos perturbam
Mais
Fazem-me reconhecer que
Existe, em minha
composição, muito menos
do que julga a matemática
Do meu coração
Da cor
Da ação
Cor Ação.

Menos razão. Menos acertos.
Mais incertezas.
É isso que chamo de Desespero
"Muso":
O destempero do que não quero
A dificuldade de encontrar o que
busco. Ação.



sexta-feira, 19 de julho de 2013

Sol: mercadoria de uma vida prometida

Na minha condição diante da situação de opressão
Ecoam gritos de ordem, palavras de imposição:
...
- Apressa-te cidadão
Corre para a conquista
De um lugar ao sol.
Por que o sol nasce
Todos os dias
Não para todos
Mas para àqueles que
Buscam!
Ficar às sombras
Despossuído,
É coisa de quem
Não buscou!
...
- Buscou o quê?
...
Nessa caminhada
Atropelam-nos
Falsos sonhos

E então há pressa.
Há a eterna promessa
De um lugar ao sol.


segunda-feira, 17 de junho de 2013

Sociedade

Sobrepujante aos meus anseios,
Prelúdio dos meus atos:
Sociedade que intermedeio
Num estranho formato.

Mais nego que aceito tais laços
Complexamente
Atados, ditados, fundamentados
Em liberais caricatos.

As escolhas são aparelhadas.
O enredo, pre-determinado
A felicidade fatigosa,
Retalha o dominado.







segunda-feira, 3 de junho de 2013



Construí um horizonte com todo o descuido de uma sonhadora.
 Fiz girar meu universo em promessas saídas de bocas e bocas
Que anunciam libertações, transformações – Pudera Canhões!
Fiz cindir no espaço versos e adversos, customizei-os,
Conforme meus gostos e desgostos. Afastei-me num ritmo seguro
E calei o grito mais confuso. Grito de quem não sabe a origem do grito.
De quem desconhece os motivos de fazer, de amar, de ser.
Procurei nos acordes das gerações que já passaram
Lições para viver. Quando percebi onde eu estava, temi
Continuar morrer. Mas vivo: pois me persegue aquele horizonte,
Envolto na perfeita guerra (sub)objetiva. Que faz voltar à vida.
Que faz nascer minhas idas e vindas:

Nasceu uma liberdade triste
No meu coração, e no seu pensamento.
Um mundo se fecha para Você!
Mas muitos outros serão abertos...

quarta-feira, 29 de maio de 2013

De todas as agonias

De todas as agonias
Que se pode sentir
Nenhuma é mais forte
Que a inação
Daqueles que poderiam
Construir:
Uma modesta interrogação
Que chegasse ao coração
Que ultrapassasse a razão.

De todas as lágrimas
Que poderiam
Não cair - e caíram
Nenhuma ardeu-me tanto
Quanto àquela,
De solidão disfarçada.
De rouquidão
De uma pessoa
Esgotada.

Mas nada pesa tanto
Que me faça da luta fugir.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Riminha



Fim de tarde
Frio que arde
É a dor de quando
Você parte.

Dor tem fim
Fim tem dor
Adeus é difícil
Quando se sente
Amor.

É lobo
Quando engana:

O coração
Quando se dana
Chora um pouco

Antes de voar.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Não-análise de algumas rupturas



As rupturas entre dependências
E independências
Podem ser analisadas
Com tal diligência
Ao ponto dos pontos
De interrogações
Arremessarem-se
Tontos.
Rumo aos contos
Bem longe da ciência.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Nostalgia

Escrever sobre a sensação de nostalgia parece que não pode ser outra coisa senão o desenrolar de um clichê, um indício de que o idealismo paira, de que o passado importa mais que o futuro. Mesmo assim...

Nostalgia

A minha mesa estava com a tinta descascada
Várias garrafas ornamentavam-na
e os vestígios de velas, esparramados,
sugerem uma vida que passou.

A chama, a taça, o sangue: deilatava-me
Num real inventado, sonhado, proferido
por Azevedo, dos Anjos e rock'nroll.
Uma inexistência desejada.

Chamava-me Innocenza, agora sou

Sou

Forma viva da negação.

Na minha mesa, com a pintura descascada
Existem cacos e cheiro de velas.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Epitáfio da artificialidade estética

Da artificialidade estética vejo-me distante, cada dia mais
A ponto de profe(rir) um breve epitáfio:

Jaz sem paz uma beleza postiça
E seu funcional sustentáculo, o exibir.
Viveram brevemente neste corpo
Que busca qualquer coisa que não
seja apenas SER.

Dorme na eternidade o desejo de parecer ser
algo que se assemelha a inexistente perfeição.
Vai com "deus" cingir outro ser que não seja eu.

Forja puljante ser. Bota abaixo bocaina.
Morreu a artificialidade estética
Que
mesmo
incipiente

Assombrava-me
Empurrei-a, conscientemente, morro abaixo
E sai cantando, dançando, qualquer música
experiMENTAL. Velei as aparências.
(H)álgum tempo.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Jamais

Não me esquecerei na inorganicidade dos sentimentos vis
Nem estragularei minha jugular, em nome de transitoriedades.

Consonatizar-me-ei em Minerva descamisada
Para fossilizar-me na história dos que desconheço.

Jamais faria um só ninho, para dele ser dependente
Desaninho, para cingir-me ao Universo, aos versos

Aos gritos.
- Seria o massacre da plutocracia!

Não deixarei minhas palavras ganharem tom de pó.
Mas que elas jamais deixem de ser fulgentes
Aos poucos ouvidos que também me resplandecem.

...

Não me esquecerei na inorganicidade dos sentimentos vis
Pois jamais poderei ignorar a correnteza da vida.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Na amabilidade dos olhinhos
sonolentos:
Repouso os meus,
Que contemplam os movimentos
harmoniosos e
o pousar dos rabinhos
charmosos:
quarteto felino
miaus.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Praia Deserta (I)



Que me cerca de ventos turbulentos
E pensamentos
Mais próximos do que é viver.
Praia Deserta de humanos,
E do exagero moderno
Que é a distância de viver.
Tudo é mar na Praia Deserta.
E lá posso ver o fim
Muito antes dele.
Cercado pela transparência do vento
E pelas gaivotas.
Quis amar o luar da Praia Deserta
Mas lá quem pode amá-lo
São os insetos, os pássaros, os peixes.
Quis amar meu par na Praia Deserta
Mas o exagero do moderno
Nos cerca até na Praia Deserta.