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sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Das insaciabilidades

Incipiente é tudo que de dentro de mim não sai
Aquelas coisas que traduzem apenas um "ai"
Que não se estende, que ninguém necessariamente entende.
Incipiente é o que não sacia, que não arrepia
Alma e corpo. Que não excita no olhar simples alegria.
As instâncias que se fecham em si, que se fechem!
Pois o que está no meu coração
São sentimentos que não se medem, nem se resumem
Numa teoria, numa contribuição com essas coisas
Que não se estendem, que se quer nos saciam.
Incipiente são os não-olhares e não-falares
Pois o que sacia é nossa coletividade
Nossa disposição seletiva à felicidade,
Que pode ser uma fuga, sim, pode.
Mas uma fuga coletiva, da qual nossa vitalidade explode.

Nossa mais íntegra vitalidade.


quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Nutrição

Finquei na terra minhas unhas,
Para poder ajeitá-la
E fazer com que beterrabas nasçam
Sadias, e que todos os seus talos
Folhas e  caule nutram alguém.
Enchi meu coração de amor,
Fui colhendo por onde passei,
Nas palavras, nas poesias
Nos olhos que de fato olhei.
Amor para mim e para nutrir
Assim como beterrabas,
Daqui pr’além.


6 de agosto de 2014

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

diário da coruja

30/07/14: "Melucci poderia ter sido um bom começo se eu não tivesse sido tão humana" - foi o que eu senti vontade de dizer ao professor. E continuaria: "Se eu fosse uma máquina teria lido Melucci e muitos outros, mas como humana, preferi viver sentimentos e momentos fugazes, degustar livros que me agradam, músicas que embalam meu ritmo". Penso que ele não acharia engraçado!
29/08/14: Depois da pimenta , depois da cerveja, do vinho, da vodka, e... depois de tudo, ainda tenho a frieza ou a sensatez de passar em passos leves. Fecho os olhos e me apaixono por sorrisos sujos, sorrisos que se soubessem o porquê de outros poucos sorrisos não sorririam antes de apertar o punho e levantá-lo, contra a pimenta nos olhos e tantas outras coisas. Sol que brilha, estrelas, pra todos mas agora pra poucos.
Minha boca to be forte para sabores intensos, quase intragáveis!
O ser é uma fase do estar....

terça-feira, 29 de julho de 2014

desejos

São três os meus desejos:
uma noite quente
um vinho de uvas syrah
uma boca pra beijar

o mundo não é esplêndido

O mundo não é esplêndido!
E é somente nessa solidão necessária
Quando ficam evidentes
Todas as minhas falhas
Que aceito, que o mundo
Não é esplêndido!
Não é, pois se fosse
Esse excesso de sentimento
No meu peito
Seria traduzido num
Adorável momento
Em detrimento dos que
Tenho vivido..
Por que tanto sentimento
Aqui dentro?
Tão parecido com o céu
Quando chove,
E o céu fica cinzento.
O mundo não é esplendido
Não, não é!
E não por que as coisas morrem,
Mas por que a vida
Fica às sombras da morte
Muito antes dela chegar.
Como quando só me amar
Não basta.
Meu coração é como um céu
Cinzento!
E quando chove,
Toda água que escorre do céu
Simboliza um pouco desse amor.
Não quero guardá-lo,
Pois um dia o céu deve ficar azul,
Pra que haja sol
E as flores brotem,
E suas cores
Tornem o mundo esplendido...
Ao menos por um momento.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Nas areias da praia, qualquer um pode se sentar e fazer castelinhos..
Cedo ou tarde chegam as ondas e acabam com tudo num segundo.
O mesmo acontece com as verdades que pousam como irresistíveis.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Isso poderia ser um texto corrido!

Escrever isso em forma de poesia é uma ofensa para a poesia! O perdão só é dado pois expressa o sentimento de um ser, e todo ser merece poesia:

A beira de um colapso total,
Provocado, não menos pela minha disposição
Em negar grande parte de tudo que está dado,
Escolho enfrentar os fantasmas que me assombram.
Resolvo resolver tudo que me assusta.
Radicalizo, troco todas as posições,
Menos a de classe, e a isso podem
Acusar-me de conservadorista-de-esquerda.
Sei que isso é tão reducionista
Quanto seria se de fato fosse.

No quase-colapso material(mental-físico-emocional)
Pensei em pedir ajuda, a pessoas que confio
Pra saber se meu grau de loucura é aceitável.
Não chamei ninguém,
Pois assim como todos merecem poesias
Todos merecem loucura. Poesias e loucuras
expressam a forma como vivemos (nenhuma palavra a mais,
pra evitar acusações: determinista econ... xápralá).
Ainda que não tenha chamado ninguém, em muitos me inspirei
E sei que de muitos preciso.. Sou da sociedade
E com ela quero ter um relacionamento profundo
E revolucionário. Sem pensar em tristeza/alegria
dor/prazer.. Pensar em aprendizado, em luta.

Num pré-colapso, as coisas ficam mais claras.
Espero que isso também valha para grandes estruturas.

sábado, 10 de maio de 2014

Insanidades

Um pouco de insanidade
(Na alquimia da vida)
Pungente e prazerosa
Incita os nossos sufocos
A desufocarem-se
Obriga-nos a ritmar
Passos e respiração
Seguindo o compasso
Animal, que vem do coração.

Um pouco de insanidade
Distribuída pelos dias
De nossas vidas
Deflete nossas certezas.
Nos mostra o quanto
Nossos corpos são frágeis.
É onde reside toda beleza.

Uma pitada de aventura
Em nossas ações
Faz das insanidades
Muito parecidas com
Nossas diletas canções.
Sem roteiro, sem rotina.
Olhos sem cortinas.

O que não-pode
Merece um brinde!

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Aos amanheceres

O dia começava bem cedo,
Antes do amanhecer..
Não adiantava sentir medo
Só se podia correr!
Café com lua,
Abacate, mel e rua.
Amanhecia enquanto corria,
Estupefata, em nuas avenidas.
Tantas palavras trocadas
Promessas silenciosas
Tanto agir, dilemas, problemas.
Florescia ao amanhecer
Vida em fluxo
Que agora... refluxo.

sábado, 3 de maio de 2014

Quando escurecem-se os olhos

Emudece o poeta quando falta amor
Escurecem-se seus olhos num temor
Numa solidão silenciosa e oculta.
Interpõe-se ao minguado ser
Uma boemia cuja seiva desejada
Passa calada entre goles de cachaça.
Anoitece em lua nova perro indivíduo
Que na bocada do nada quer transformar
Certas coisas do seu destino.
Os olhos escurecidos
Os são por que nem eles são capazes de saber
Qualquer coisa sobre o destino.
E agora amor que falta cachaça que sobra.
Um labirinto representaria a vida,
E tudo mais nada é no instante em que
A incerteza e a insignificância
Traduzem o coração de uma mulher.

domingo, 30 de março de 2014

Tristeza e Alegria

Lá vem aquela tristeza 
                     apertada
Que faz de nós simples 
                           nada.
Lá vem aquele pranto   molhado,
Aquele choro apertado    no peito,
E uma vontade tão grande 
                        de alegria.

Lá vem o sol, 
atrás das nuvens...
Queria vê-lo
e saborear seu    pranto
Transformá-lo em 
          cantoria.
Num doce acalanto
Que mudasse
 a direção 
da tristeza.

         Aquele choro apertado no peito
 Fica atrás dos meus 
          olhos
Cheios de nuvens

E  vontade de alegria...

                            Tristeza e alegria cabem
                               No mesmo coração.


segunda-feira, 17 de março de 2014

Desabafo de quando volto para casa

Não me restam dúvidas de que minha casa é um lar de harmonia, singular e único. Como é bom voltar, como é bom chegar e me aconchegar nos gatos e Lispector. Alguns desesperos jamais passam pelo portão. Nas ruas descaracterizo-me um pouco, mas aqui, na profundidade da minha solidão, ouvindo e vendo a chuva pela janela, percebo minha subjetividade: sou sensível, muito para quem está imersa na ciência, mas o suficiente enquanto poeta. Meu lar abriga a mim e aos bichos, se eu desejo me comunicar, devo miar, latir ou escrever. Poderia ficar dias sem falar uma só palavra, só degustando Gil, Bethânia e vinhos da melhor safra de São José dos Pinhais. Quando volto para casa dá vontade de hibernar e de, novamente, poder amar algum ser da mesma espécie. A água pura que num esforço surge, e que sai tão fresca do filtro de barro, purifica todas as águas que bebi durante o dia. A falta de olhos humanos supre todos os que vi e que me viram, exageros modernos, urbanos. Quando, no meu lar, silencio o coração, até tenho a impressão de que a vida pode ser boa para todos, como é para mim, mesmo num espectro de solidão. Solidão que já disse, disfarçada, típica de uma mulher que por algum motivo foi magoada, e que agora só deseja a paz do lar, dos bichos, da música, livros. No meu lar só falta uma floresta que o proteja, adoraria resolver isso com um “assim seja”, mas isso apenas figura meus sonhos, meus desejos.  Nem sempre quero ficar escondida, mas quase sempre, nem sempre quero ninguém, ainda mais quando chove dentro e fora de mim, mas parece que pra mim só tem ninguém, só tem o além amor, o além poesia e, claro, meu lar.

Elga Marie

quinta-feira, 13 de março de 2014

Versinhos de um dia cinzento


(hoje aqui dentro fez sol. O versinho é de dias atrás)

Lá fora está como aqui dentro,
Da mesma cor e temperamento.
Desejos mesurados de um ser
Aficionado. Meu sentimento
É similar a esse dia cinzento.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Sólo amargo

Tem algum Brasil que me compõe 
E desconheço,
Como o que não posso sentir 
Tocar meus pés.
Céu e mar.
Descompasso do samba invertido 
Desmedido
Como amar num soluço um dia cinéreo, 
Distante
Um não-sol que não-quero 
Como mal-te-vi.
Tem Brasil que me queima as faces 
Com lágrimas e gritos, 
Vindos da concretude de sua história.
O berimbau é um eco numa noite escura 
no Brasil.
No silêncio turbulento da minha solidão
Na minha descendência mestiça
Nos meus pensamentos
Meus pés percorrem Brasil
Meus olhos passeiam por toda costa
E nas florestas
Escorre o sangue da vida pré-Brasil
Que pra mim é Brasil
E tudo se mistura em lágrimas de amor
De dor.
Da profundidade de experimentar o sabor 
Amargo
Moderno.
Do Brasil dos homens de terno.


Fotos: pés sem trato estético culturalmente aceito

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Meus companheiros

Meus companheiros,
Com quem compartilho soluços de todos os tipos,
Transmitem a paz mais simples, que beija
Meus olhos com lágrimas doces, de quem ama.
Invocamos por libertação, cujas formas projetadas
Em nossas faces, e ruídos, e linguagem,
São distintas pela evolução das espécies.
Louvamos os peixes a desfrutar o mar!
Queremos salvá-los ou comê-los
Mas nunca vende-los.
É o encontro dos selvagens com a civilização
Num prisma da não racionalidade técnica, mas do coração
Nossa toca é moderna, mas transitamos
Na materialidade da história.
O cão, o gato, o homem, numa opressão alegórica.
Meus companheiros não oprimem.