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terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Alquimia ¹

Abriram as cortinas:
Vi no palco um livro de alquimia,
Protagonista do espetáculo da
minha não-vida.

Abriram-no:
Foram mãos de um invisível corpo
De quem a boca proferia poesias
Rebeldias, acasos - Agulhavam
Me.

Pus-me a criar os meus dias
Inspirada no livro de alquimia
Criei palavras, sons
expressões corporais
Pincelei o preto, o branco
O brilhante.

Estreiou  o tempo. Finalizando
O espetáculo do livro de alquimias
Encantou a maioria e
protagonizou minha "vida".

Fecharam as cortinas e vi com clareza
os corpos que folhavam alguns livros
... que já não significavam nada.

Restou-me rebeldia,
Não deixaram qualquer possibilidade de vida.

Nota

1. Refiro-me a alquimia fazendo uma analogia aquilo que podemos descrever enquanto possibilidades de descobertas e criações autônomas das determinações geradas pela configuração econômica, política e social.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Esperança



Abraça-me uma solidão ímpar:
Provoca em mim sentimento aveludado,
E sentimento espinhoso.
Rasga a carne e faz meu pensamento
Pensamento silencioso.
Sem eco.
Sem projeção alguma.
Pouca projeção.
Abraça-me um odioso desespero
De ver transformação
De transformar pra fora
E transformar meu coração
Meus olhos
E todos.
Minha mente
E todas.



quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Trans-passo



Vou caminhando
Em passos pesados.
Fazendo laços,
Em vários lugares do espaço
Em que vivo.
Voo em sonhos
Transgressivos.
Num curto compasso
Percebo meu eu agressivo,
E o passivo.
Desfaço meus laços
Refaço
Meus passos.
Transpasso 
O que posso
E o que não posso 
Refaço meu olhar

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Aqui

Que importam as cores das flores se mal posso vê-las?
O vento? Que é? Muitas coisas importam mais que vento e flores aqui:

Aqui não há nada que me atraia,
Tão somente as oposições de tudo daqui.
As fugas possíveis. As desimportâncias.

O equilíbrio... não há, mas há quem o busque. Senão todos.
Aqui, as buscas são mercadorias:

- Comprei meditações, passei fé no cartão!
A ciencia protocola absurdos que inovam a opressão.
Empresas ofertam equilíbrio.

Eu rio. Eu passo.

Não há equilíbrio, há negação da busca.
A busca sim importa, mas aqui é probído.

Não posso buscar, mas tenho desobedecido.

domingo, 9 de setembro de 2012

Miudeza


Alguns instantes considero, profundamente, que cores de flores e flores
Possam definir meu pensamento e acalmar meu coração.
Percebo tão gigantesco erro quando vejo o vermelho de sangue,
Estampado na flor que anuncia: - Revolução!

Em alguns momentos visualizo felicidade na singeleza do vento,
Defino paz com a palavra silêncio. Não demora muito para que eu perceba
Que o vento é quem espalha no horizonte os gritos que soluçam
As dores da dominação.
 
Em poucos momentos esqueço a pequeneza que é minha felicidade,
Se vista ao lado da opressão que impera nesta sociedade.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Abandono

Dedico estas palavras ao abandono:

Um fim expressa o abandono do que um dia edificou-se
Marca a ruptura inescapável de quando se esgotam as vontades
Um fim não é só um fim, é também um início.

Passo por um fim hoje, anunciado desde há alguns dias.
Parece que este fim deixou-me afim de construir algo que substitua
O que findou.

Hoje, ao entardecer, optei pela poesia
Nascida das cinzas do abandono de algumas lutas.

Abandono temporário.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Pensamento de lebre


Entardeceu cedo, e junto a lua veio o medo de não mais poder
Me esconder...  no melhor lugar do mundo:
 *
Qualquer verso proferido por mim para mim mesma
Refletem anedotas quaisquer, que ontem ou qualquer dia
Vivi.
 *
Essas anedotas são como tigres surrealmente famintos, enquanto
Meus pensamentos.. parecem lebres, tartarugas..
passíveis a tristeza tolas.
*
As anedotas perseguem os pensamentos!
 *
Nessa perseguição
Tenho a enorme sensação de não me importar com as tristezas tolas,
Quiçá pudera, importo-me!
*
Ainda sendo meu desejo
Traze-lo para cá, junto ao meu coração.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Hoje parei de respeirar


Hoje parei de respirar

Hoje parei de respirar:
não me sobrou nem o sufoco de respirar os últimos segundos do ar.
Quando vi você passar
Lembrei como era bom, e tão bom sentir você me abraçar.
Hoje tentei deixar de amar
Mas que difícil é, esquecer as lembranças daquele profundo olhar.
Fiquei sozinha, pensei em rumar ao mar.
E ainda lá, estare’intensamente a te amar, mais do que preciso do ar.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

(In)certezas II

Entre abelhas e gatos e todos os pequenos animais de existências quase ou totalmente alheias, eu e melissa somos contendidas e presenteadas - no primeiro dia do ciclo da lua cheia - com movimentos harmônicos e inócuos de toda vida que não era eu. Esqueci do tempo e do futuro, esqueci dos maus sonhos que eu mesma procuro. Gozei da doce companhia do sol, da sombra, da (in)certeza de tudo, da paz, da raríssima paz.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

A solidão ultrapassa ser e estar: As pessoas são idéias de pessoas, e as idéias são ideais ilusórios, são realidades forjadas, composições da inarmonia universal. A solidão reverbera de olhos quaisquer, que apresentam-se como jamais seriam ou que são aquilo que o outro quer. A solidão vem dos hábitos hécticos de uma sociedade egoísta, hedonista, todos os istas que um dia foram brilhantes. A solidão sou eu, procurando o eu que exista.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Eu e o trem

Vejo, através da janela molhada - e dos olhos molhados -
o trem passar, vagaroso.

Ouço, deitada em minha cama, o trem.

Queria ser o trem
Que percorre longos caminhos e se oculta
Por detrás das montanhas

Queria ser o trem
Que atropela brutalmente o trilho
E o que passa por sobre ele

Queria ser aquele trem
Cujo som metálico lembra os gritos
Das dores de quem o fez

Queria que entre eu y o trem
Existisse uma cavilha
Que nos tornassem um só.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Há um tumulto de vozes aprofundado
em mim. Acompanham-me todas,
como perfuradas em meu estômago.

Murmuram sobre a velha foto de chapéu e flores,
sobre escorregar no chão em qualquer chuva..
sobre segredos eruptivos.

Enquanto isso, segredos
se transformam em vozes.

Há um tumulto de vozes aprofundado
em meu silêncio.

Intercadente a minha figura.