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sexta-feira, 29 de julho de 2011

A Velha e os Girassois de Van Gogh

Hoje me disseram que o amarelo de Van Gogh
Sempre finaliza em girassol
Mas numa tarde qualquer a velha
Pôs-se a chorar frente ao amarelo
De Van Gogh, num museu em Curitiba.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Da pureza que não existe

No claro do dia pensei ser verdade uma grande mentira
Inventei um mundo em meus pensamentos
Mas esse mundo é destruído pela realidade e sua ira
Um sonho pode ser uma falácia, pode ser um pesadelo
Mas um sonho sempre escorre de meus olhos
Na forma de uma lágrima, que carrega consigo
Cicatrizes de uma vida discretamente sofrida
Um sonho existe, mas por que se repete o mesmo pesadelo?
Penso em correr bravamente pelo planeta afora.
Penso em morrer silenciosamente nas entranhas da vida
Penso na solidão, na vida e no amor. Já não sei de mais nada.
Apenas a certeza de que eu mesma me acompanho
Durante toda minha ínfima existência.
As madrigais das baladas jazzistas e o copo de vinho
Simbolizam apenas uma fuga, um esconderijo.
Mais nada!
Não sei se algum dia encontrarei as verdades que
Acredito fielmente existirem, até então, não existem
Nada existe!
Somente o que existe sou eu invisível, parada tristemente
Num canto frio, de uma sala fria.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

A fuga ii

Quando alguém poderia imaginar que aquele doce animal poderia colocar-se a correr bravamente pelos campos desconhecidos? Um dia a lebre estava a descansar levemente na sombra de seus pensamentos, o ar era morno e as manchas do passar dos anos ilustravam um cenário com tal pureza que palavras seriam redutíveis. A lebre se esconde em qualquer canto, habitável ou não habitável, basta que ela corra nas profundezas do seu coração.

Nunca ninguém poderá afirmar que tudo é para sempre, pois mesmo qualquer coisa continuando, a essência não é e não pode ser perene, e disso a lebre bem sabe. Innocenza eternizou dúvidas e certezas num compasso legível para o tempo, e somente para o tempo; a vela acesa lembra a certeza da pobre menina, que repousa tranquila num respirar invisível y imperceptível para QUASE todos; a lebre é apenas mais uma face de Innocenza. Uma fuga constante de prisões reais e irreais, fugas que terminam em outras fugas, infinitamente.

Dizem que o medo compõe parte da essência humana, se isso é ou não verdade, não importa à lebre, mas Innocenza tem a certeza de que o medo de todos os seres humanos compõe a fragilidade desse bicho, e que apenas supor que os humanos são tão egoístas, faz com que seus pés sangrem de vontade de correr, correr, para bem longe, onde ninguém mais poderá chegar. Quanta besteira!

O quarto escuro e a música pavorosamente desejada
Lembram os pés e os musgos dançando as dores
Da mulher que, de vagar, percorre as entranhas dos bosques
E dos cortejos de uma vida sem faces empoeiradas.
Mudo, o céu beija o metatarso calejado de Maria ou de João;
Que pintam nas nuvens uma lebre correndo desesperadamente
Para os esconderijos e labirintos de uma simples canção.


Fuja Innocenza, corra o quanto conseguir, não pare para nada. Esconda-te num buraco, num campo, atrás de uma árvore ou em casa... mas volte.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Chegou o inverno

De repente, flores e pássaros ganham tonalidade cinza
E na grama escorre o acúmulo transparente de vida

As horas estão a pulsar sincronicamente
Numa dança colorida em que a Natureza
Movimenta-se constantemente!

Chegou o inverno, e as folhas voam, apodrecem,
Repousam amarelas por entre os galhos: óleo sobre tela.

Olhos sobre tudo.

sábado, 2 de julho de 2011

Olhos...



O olhar traduz um horizonte profundo e único
Reflete a bondade e a maldade em ângulos, muitas vezes,
Difíceis de se ler.

O olhar aquece e esfria, transparece verdades e mentiras

Bondade: calor e transparência
Maldade: Frio e mentira

É?

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Da morte e suas faces

Olhei, na noite fria, a expressão dos olhos que traziam consigo um mar de águas turvas, os olhos estavam longe de mim, e muito perto do inferno. Em algum dia no passado, nós passeávamos nos bosques mais lindos e mais floridos, e tuas mãos quentes refletiam em meu coração a paz de luares e a loucura de vinhos que em nossas bocas escorriam, como o orvalho escorre nas plantas. Olhei, na noite fria, a expressão petrificada de um espírito que se foi, olhei o fim e o começo, a dor e o amor. Morri como um bicho que congela no inverno, sem toca para se esconder, sofri, como um bicho subordinado às maldades humanas, gritei como um bicho. Eu sou um bicho, e você... é o mar. No mar o bicho se afogou. Naquela noite fria suspirei a vida que se foi e a que veio.