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quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Viola vermelha

Poderia pousar no coração do Brasil
Sob a harmonia do Sol e dos Rios
Degustando o azedume das silvestres
E o açúcar natural da jaca.
O banco e a jaca, o sono que desperta
O desejo de deleitar Brasil, jaca e viola.
Vontade do amanhecer cresce. Fortalece
O desejo de tomar por assalto
Os prazeres dispersos em complexos
Fluxos fugazes e fatos controversos.
Fico verso quando ouço o coro
Rouco de um Brasil Calabouço.
Anúncio da ruptura do mulato trabalhador:
Tropical leninismo que a viola rearranja.
E por trás brilha um céu laranja, que aos poucos
Vai ficando vermelho..


sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Desencantos de adolescente

A flor que reguei
Morreu antes do tempo.
E num instante chorei,
Sozinha, contra o vento.

O amor não me engana mais,
Aceito a condição
De ficar sozinha em paz.

Minha essência distancia
Qualquer um, e tudo que me resta
São os bichos são os livros.
É a vida composta por um.

Desencantos em cantos
Em prantos, na proteção
Dos mantos, dos mantras
Desencantos violentam
Mas meus sonhos me curam.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Pedaços de mim

Vou deixando pedaços de mim,
No pequeno campo que habito.
É difícil assim, como disfarçar
O coração saltando aflito.
A amálgama que me compõe
Tem predominância metálica,
E entre os pedaços perdidos e
O fixo coração aflito,
Tento deixar o coração pra lá
E fitar o natural conflito
Que fazem os pedaços de mim
Espalharem-se pelo mundo.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Solidão ensolarada

O sol quando se está só
Faz dó no meu coração
O dia acaba em pó
Que vem da não-ação.

Uma tristeza desigual
Aprofunda-se em ares.
E respiro o necessário
Para não acumular males.

Queria estar como não estou
E pra onde vou
Não sei
Sei apenas onde parei.

Não queria sentir-me tão só
Mas nem sol, nem ar
Tiram da minha garganta o nó

Atado por amar.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

À Brasileira

Alguns versos ocultam a lúgubre existência do povo mestiço.
Há quem ostente heróica história brasileira, mas tem quem
destaque o oposto, como Azevedo em O Cortiço.

Fazem-nos crer que
Nossas negras formas não escrevem, só atuam
Em cenas pálidas, como àquelas construídas
Pela segunda geração do romantismo.

Assis consegue ser crítico, ainda que esconda
o verdadeiro ritmo da sociedade. E assim Caminha.

O halo é clamado e contemplado por Olavo
Não é o mesmo halo visto por Fabiano de Graciliano
Vidas secas no agreste, entram em chamas.

As chamas inspiram protestos, e protestos
Terminam num brinde, no Bar Don Juan:
Triste, Callado.

Ainda assim, Quintana e Drummond enxergam amor
E o ódio, e dilemas de poetas.

As poesias permanecem, mas "E agora José?"
Agora chamo Carolina, Cecília.. dada a dominação masculina.

Ah poesia brasileira, oculta ou revela?
Lê o poema, queima o poema, apaga a vela.