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sexta-feira, 22 de julho de 2011

A fuga ii

Quando alguém poderia imaginar que aquele doce animal poderia colocar-se a correr bravamente pelos campos desconhecidos? Um dia a lebre estava a descansar levemente na sombra de seus pensamentos, o ar era morno e as manchas do passar dos anos ilustravam um cenário com tal pureza que palavras seriam redutíveis. A lebre se esconde em qualquer canto, habitável ou não habitável, basta que ela corra nas profundezas do seu coração.

Nunca ninguém poderá afirmar que tudo é para sempre, pois mesmo qualquer coisa continuando, a essência não é e não pode ser perene, e disso a lebre bem sabe. Innocenza eternizou dúvidas e certezas num compasso legível para o tempo, e somente para o tempo; a vela acesa lembra a certeza da pobre menina, que repousa tranquila num respirar invisível y imperceptível para QUASE todos; a lebre é apenas mais uma face de Innocenza. Uma fuga constante de prisões reais e irreais, fugas que terminam em outras fugas, infinitamente.

Dizem que o medo compõe parte da essência humana, se isso é ou não verdade, não importa à lebre, mas Innocenza tem a certeza de que o medo de todos os seres humanos compõe a fragilidade desse bicho, e que apenas supor que os humanos são tão egoístas, faz com que seus pés sangrem de vontade de correr, correr, para bem longe, onde ninguém mais poderá chegar. Quanta besteira!

O quarto escuro e a música pavorosamente desejada
Lembram os pés e os musgos dançando as dores
Da mulher que, de vagar, percorre as entranhas dos bosques
E dos cortejos de uma vida sem faces empoeiradas.
Mudo, o céu beija o metatarso calejado de Maria ou de João;
Que pintam nas nuvens uma lebre correndo desesperadamente
Para os esconderijos e labirintos de uma simples canção.


Fuja Innocenza, corra o quanto conseguir, não pare para nada. Esconda-te num buraco, num campo, atrás de uma árvore ou em casa... mas volte.

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