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sexta-feira, 23 de setembro de 2011

desabafo

A chuva não traz apenas frio e humidade para a terra; traz para o meu coração um assombro terrível, uma certeza de que nada é único, de que não há singularidade, certeza de que tudo é efêmero. Uma árvore pode viver mil anos ou mais, mas um dia ela morre. Uma palavra leva segundos para ser dita, mas pode ser eternizada para além de mil anos. Fico bem parada, para sentir a frieza do vento, representando a frieza da vida, lembro de Buda sem ser Budista – não sou nada – mas compreendo que a vida é sofrimento, intenso, profundo e cíclico. Olho a chuva, não ouço se quer uma palavra, não falo, apenas sinto rasgar dentro do meu coração alguns sonhos inocentes desenhados durante esses insignificantes anos da minha vida. Posso morrer hoje ou amanhã, poderia ter sido ontem, quem se importa. A importância tem prazo de validade, como a vida, como o amor que não é amor. Temo não saber o que é amor, mas sei que posso descobri-lo, como o tempo descobre todas as faces da vida e da morte. Sinto-me nada mais que um corpo absorvido em sua total individualidade, uma onda furiosa, um pássaro a cantar sozinho num campo de profunda solidão. Sinto como se eu fosse a noticia de um desastre, uma terrorista. E quando chove assim, todos os bichos que habitam em mim, tornam-se mais humanos, isso pois, aqui fora, tenho uma vontade imensa de chorar.

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